Andrologia
By Dr. Felipe Amoedo | 04/06/2025

Toque retal: ainda é importante no rastreamento do câncer de próstata?

Toque retal: ainda é importante no rastreamento do câncer de próstata?

Eu sou o Felipe Amoedo, médico urologista em Salvador (BA).

O exame de toque retal (TR) já foi, por muitos anos, um dos pilares na detecção precoce do câncer de próstata. Apesar da ascensão de exames mais sofisticados, como o PSA e a ressonância multiparamétrica da próstata, o toque continua tendo seu valor – especialmente quando bem indicado.

Através do TR é possível a avaliação da próstata, com estimativa do seu tamanho, consistência e presença ou não de nódulos suspeitos.

Qual o papel do toque retal no rastreamento?

O objetivo do rastreamento do câncer de próstata é identificar tumores clinicamente significativos em estágios iniciais, quando as chances de cura são maiores. Para isso, o PSA sérico é o exame de primeira linha recomendado pelas principais diretrizes internacionais (EAU e AUA). No entanto, o toque retal pode ser um exame complementar importante em casos selecionados.

Estudos mostram que o toque retal tem baixa sensibilidade como método isolado para detecção do câncer em sua fase inicial. Porém, quando há elevação do PSA (≥ 3 ng/mL), o toque retal aumenta a especificidade da avaliação, ajudando a refinar a indicação de biópsia.

Quando o toque retal é indispensável?

Segundo a diretriz europeia de 2025 (EAU Guidelines on Prostate Cancer), o toque retal deve ser considerado nas seguintes situações:

  • Homens com PSA elevado ou alterações na densidade do PSA, como parte do exame físico para estadiamento clínico e decisão sobre biópsia;
  • Homens com sintomas urinários sugestivos de doença prostática;
  • Avaliação de tumores clinicamente palpáveis, contribuindo para a classificação T do estadiamento clínico;
  • Seguimento de pacientes com diagnóstico prévio de câncer de próstata, após tratamento curativo, como parte do acompanhamento.

Além disso, o toque pode ajudar a identificar tumores que não elevam significativamente o PSA.

Em quais casos o toque retal pode ser dispensado?

A evidência atual sugere que o toque retal tem utilidade clínica limitada em homens com nível de PSA abaixo de 2 ng/mL, sendo seu impacto na detecção de câncer clinicamente significativo considerado pequeno. Nestes casos, o exame tende a trazer mais ansiedade e falsos positivos do que benefícios reais.

Assim, em pacientes com baixo risco (PSA < 2 ng/mL, sem histórico familiar e sem sintomas), o toque retal pode ser omitido no contexto do rastreio populacional.

Qual o impacto do toque no diagnóstico e estadiamento?

Nos casos suspeitos ou confirmados de câncer, o toque retal fornece informações valiosas sobre a extensão clínica da doença. Nódulos endurecidos, assimetrias ou alterações da superfície prostática podem sugerir invasão extracapsular ou doença avançada localmente, ajudando a definir o estadiamento clínico (T2 vs T3) e o planejamento terapêutico.

Quem deve realizar o toque retal?

O toque retal pode ser recomendado para:

  • Homens em seguimento de câncer de próstata previamente tratado.
  • Homens com PSA elevado ou alteração na densidade do PSA;
  • Homens com fatores de risco (história familiar, ancestralidade africana);
  • Pacientes sintomáticos (hematúria, disúria, jato urinário fraco, etc.);
  • Homens com PSA ≥ 3 ng/mL, como parte do exame físico complementar antes de indicar biópsia;

Conclusão

Apesar de controverso em alguns cenários, o toque retal segue sendo uma ferramenta útil na avaliação urológica, especialmente quando associado ao PSA. Seu uso deve ser racional, respeitando o contexto clínico, os níveis de PSA e os fatores de risco individuais. Em uma abordagem centrada no paciente, o exame pode ser um aliado importante na detecção precoce e no estadiamento do câncer de próstata.

urologista-conversa

O toque retal da próstata, associado ao PSA, pode ser recomendado no rastreio do câncer de próstata.

Termos relacionados

Câncer de próstata

Rastreio de Câncer de próstata

Toque retal

Toque da próstata

Exame de próstata

Referência:

European Association of Urology (EAU) Guidelines Panel. EAU-EANM-ESTRO-ESUR-ISUP-SIOG Guidelines on Prostate Cancer 2025 – Limited Update. European Association of Urology; 2025. Disponível em: https://uroweb.org/guidelines/prostate-cancer:contentReference[oaicite:0]{index=0}.

Halpern JA, Oromendia C, Shoag JE, et al. Utility of Digital Rectal Examination (DRE) as an Adjunct to Prostate Specific Antigen (PSA) in the Detection of Clinically Significant Prostate Cancer. J Urol. 2018 Apr;199(4):947–953. doi:10.1016/j.juro.2017.10.021.

Wei JT, Barocas DA, Carlsson SV, et al. Early Detection of Prostate Cancer: AUA/SUO Guideline Part I – Prostate Cancer Screening. J Urol. 2023 Jul;210(1):46–53. doi:10.1097/JU.0000000000003491

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